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terça-feira, 20 de julho de 2010

País das Maravilhas



País das Maravilhas

Critica aos contos de fada – por: Felipe Alves Bernardo


Os contos têm utilidade para as nossas crianças?

Durante muito tempo os contos não eram voltados para o público Infantil. Havia censuras, cenas de sensualidade, violências adversas, abusos e em alguns casos o próprio ato sexual.

Contudo o desenvolvimento dos contos adquiriu um formato que atingiu crianças, adolescentes e até mesmo principio morais que começou a chamar mais ainda a atenção de adultos.

De fato o meio cristão tem o costume de avaliar apenas os pontos negativos dos contos, e não só no meio cristão/religioso, mas, pessoas vêm tentando mudar um pouco as características dos contos, retirando dos mesmos alguns fatos corriqueiros do dia-a-dia, mortes, tragédias, traição, batalhas e mostrar apenas o lado feliz e fantasioso da vida.
È preciso entender que os contos tem também sua contribuição na formação do indivíduo e no desenvolvimento de sua psique.


O estudioso de contos PPROPP, Vladimir I.. 'Morfologia do conto maravilhoso'. Rio de Janeiro nos mostra em seu estudo que nos contos:
“Seu núcleo problemático é existencial (o herói ou a heroína buscam a realização pessoal)”.

Com base nesta afirmação e utilizando dois exemplos vejamos como é a influencia dos contos na formação do indivíduo.
Utilizaremos um clássico Disney de sucesso: Rei Leão (The lion King. 1994) e Alice no País das Maravilhas (Alice's Adventures in Wonderland. 1865) de Charles Lutwidge Dodgson, que usa o pseudônimo Lewis Carroll.

Em O rei leão, temos a historia em 1º pessoa de um filho nascido rico, com autoridade por ser filho do rei, com reconhecimento e toda a disposição de uma criança. Filho este que enxerga o mundo como um lugar em potencial para se divertir e utilizar o tempo a seu próprio modo. Tem a visão de um pai poderoso, forte, rico, respeitado, o melhor pai de todos. Até que um dia esse filho entra em uma enrascada por desobedecer ao pai e então quando ele se vê em face à morte, o mesmo pai, forte, rico e respeitado chega e o salva. Então o filho volta pra casa ao lado do pai pensando se o desapontamento do pai por causa da sua desobediência faria com que os dois deixassem de ser amigos, ou se o amor do pai se esfriaria pelo acontecido. Com toda sinceridade então, o filho questiona o pai: “_ainda somos amigos?”, então o pai responde: “_claro que sim filho!”, e em seguida a pergunta foco do filho: “_ e nós vamos ficar juntos para sempre?”. O pai fica sem saber como responder tal pergunta, como explicar ao filho que um dia o pai que é forte, temido e respeitado não poderia estar ao lado do filho por toda a vida? Contudo o pai explica o seu filho que um dia ele partiria e que isso faz parte da vida de todos.

Em suma o conto trata com o sentimento de perda que o filho tem quando seu pai falece, e ainda trabalha com o sentimento de culpa que é gerado no coração do filho pela morte do pai. O conto em momento algum esconde que na vida de qualquer um, até mesmo na vida de filhos de rei, existem perdas, lutas, intrigas entre familiares, alegrias, emoções e afetos.

Neste padrão de conto a criança começa a lidar melhor com tudo aquilo que ela se identifica, e uma possível perda de um familiar, ou presenciar uma discussão de família, separação dos pais não se transforma em transtornos psicológicos na vida da criança, salvo em alguns casos.

Em Alice no País das Maravilhas temos todo o lado fantasioso do universo infantil. Animais que tem a capacidade de falar, poções que fazem diminuir, bolos que fazem crescer, gatos que desaparecem e criaturas más que só pensam em fazer o mal.
Um mundo colorido onde tudo é possível.
Ao analisar o conto com cuidado e profundidade percebemos três personagens principais. O primeiro deles:

O Chapeleiro: um homem que tem o seu ofício de fazer chapeis de várias cores, tamanhos e modelos diferentes, não tem um nome próprio, é apenas conhecido por ser um chapeleiro, pois essa é a sua essência. Ele não faz nada alem de chapeis, isso é o que o satisfaz, que o completa, e toda a sua vida são voltadas a esse ofício e essência, fazer chapeis. Sua loucura é tanta que sua vida perde o sentido quando ele é impedido de exercer sua essência de chapeleiro.

Muitas vezes, pessoa comum do nosso dia-a-dia tem apenas um alvo de vida. Batalham se desgastam iniciam, desenvolvem e terminam suas vidas atrás desse alvo. Ser alguém, ter algo, e não constroem nada que não esteja vinculado ao seu alvo.
De fato se nós formos entregues aos nossos próprios anseios, seremos apenas chapeleiros loucos atrás de um alvo.

Sua essência de chapeleiro é tão forte e real que por certo tempo se torna escravo dela mesma. E acorrentado pelos pés exerce seu ofício e essência e nem percebe que é um escravo de si mesmo. E mesmo em liberdade ainda é aprisionado em seus pensamentos e desejos.

O Segundo:

A Rainha vermelha: Separada de sua irmã mais nova desde a infância, sozinha, amarga, dura, com o coração voltado apenas para um homem. Não aceita ser contrariada, autoritária, fria, mulher com poder de fazer com que todos a sua volta se sintam inferiores, razão porque ela mesma se sente inferior aos outros. Qualquer que a contrarie, ou seja, uma pessoa melhor que ela é condenada à morte.

A rainha vermelha expressa o medo de ser inferior perante a sociedade, vive enganada por seus “amigos próximos” e tenta manter a aparência e expressar uma realidade de vida que não vive. Sua fraqueza interior é coberta pela arrogância e dureza.

O Terceiro:

Alice: Uma criança dentro de seu mundo surreal e crente no impossível, o que torna o mundo fantasioso em concreto, com emoções e sentimentos.
Como toda criança quando se depara com algo surreal, apenas um choque leve em sua mente, e logo, tudo o que parecia apenas fantasia se torna real e normal.
Com toda inocência de uma criança, é incapaz de ferir uma mosca. Cuida de todos e é amada por todos.

Toda criança tem a necessidade e é uma faculdade inata da mesma acreditar em coisas impossíveis e fantasiosas, isso torna seu mundo infantil, colorido e feliz. Um filósofo chamado Hume (1711-1776) mostra o seguinte exemplo sobre a diferença da mente e percepção no desenvolvimento humano.
Hume supõe o seguinte exemplo: À medida que a percepção da realidade do mundo vai aumentando menor se torna a crença surreal. Ex: se um bebê um dia acordar e ver que sua mãe está voando pelo quarto, para ele a percepção de que ser humano não tem a capacidade de voar ainda não está completamente formada e ainda não houve tempo o bastante pra que ele experimentasse essa percepção. Mas para um adulto, enxergar outro adulto voando pelo quarto a reação seria totalmente diferente.

A percepção que Alice tem do mundo se compara com a maioria das crianças. O conto tem o lado fantasioso, mas também trabalha o lado das batalhas e dificuldades que a vida oferece.


Enfim, os contos têm o seu lado positivo e se filtrarmos com cuidado, podemos ajudar muito nossas crianças através deles.

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